22 de maio de 2009

Sobre Voluntariado (ou Procura-se Voluntários)

Há alguns anos, eu era bem avesso às ONGs e afins. Essa afirmação pode até surpreender algumas pessoas que me conhecem, porque me vêem, hoje, envolvido em dois projetos sociais, sendo um de forma ainda distante.

Sempre senti uma pontada no coração ao ver algum pedinte na rua, principalmente quando é criança. Ouço ainda hoje os gritos de algumas delas pedindo dinheiro na BR 101, quando me mudava para a Bahia, em 93. "Dá um dinheiro aí", elas gritavam. A vegetação e o clima ajudavam a cena, e trouxeram um tipo de trauma até pouco tempo atrás. Eu tinha oito anos. Acho que todo mundo já passou por essa fase de compaixão. Algumas continuam nela, outros crescem e começam a fazer alguma coisa e outros regridem, chegando ao nível de tocar sua vida sem muito se importar. Mas a ideia de uma organização “terceirizando” a ajuda ao próximo - algumas funcionam dessa maneira -, tirando, assim, a tão importante "mão na massa", não me atraía e acabei desperdiçando algumas oportunidades.

Outro ponto é que essas ONGs são, em sua maioria e quase por definição, baseada em trabalho voluntário. Falando de Vida Nova, acrescenta-se, aí, a cidade: São Paulo. Um trânsito que te “rouba” umas duas horas por dia (chutando baixo), faculdade, trabalho, TFG, família e, claro, lazer - cinema, barzinho, descanso, namoro, igreja, CQC etc. E é disso, o voluntariado, que quero falar. E já peço desculpas pela introdução que saiu maior que o imaginado. Aproveito o momento pra dizer que este post é de responsabilidade minha, falo por mim, não por outros voluntários ou, muito menos, pela ONG.

Não quero reprisar como essa Oficina caiu em nossas mãos (isso, você encontra, respectivamente, aqui e aqui). O que importa é que, nos primórdios, tínhamos algo próximo de 35 voluntários. 35 pessoas para 25 alunos. Mais de uma pessoa (uma normal e uma anã) per capta. Era um grupo formado por universitários, estagiando ou só estudando, e alguns formados, já trabalhando. Fazíamos reuniões na ONG, na igreja, nas salas da universidade, pensando no que faríamos no próximo sábado. Sem muita organização – tempos depois, perceberíamos que deveria haver departamentos, mas isso é outro assunto. O que eu não sabia era que alguns estavam ali com outro objetivo, que não aquele de ajudar aquelas crianças e suas famílias. Triste. Isso se fez perceber quando em poucos meses, o número havia caído muito, ficando próximo de 1/3 do inicial.

Quem sou eu pra julgar, o que realmente aconteceu. Tenho algumas opiniões, é verdade, não quero nem começar a citá-las. Havia outras oficinas (música, lúdica, artes, das mães etc), então, não era algum descontentamento com a nossa, porque se isso fosse, poderiam se mudar para outra – sinto que já estou começando a julgar –, se tivessem entendido o verdadeiro sentido de estar ali. Curiosamente, o grupo era formado por “recém-universitários”, divididos quase milimetricamente em masculinos e femininos. Não é difícil imaginar o motivo que os movia. Notando que o grupo diminuiu, algumas pessoas e eu saímos à procura de alguns destes, sugerindo a estes a divisão do grupo para não só “desmuvucar” a sala, mas também para deixar alguns finais de semana livre para alguns, usando do bom e velho revezamento. Note que esse tratamento geralmente vem de quem precisa de um favor, o que não era o caso, mas obtínhamos respostas como se fosse. Não adiantou. A moda chegara ao fim.

Seria injustiça da minha parte não lembrar que nesse ínterim um grupo pequeno, especialmente um casal, chegava para ajudar a oficina. E ajudou muito, até uns meses atrás – quando outro projeto social o atraiu. E, ao fim do ano passado, quando pensávamos ter um número grande, e com a intenção de envolver a todos diretamente na coordenação – vale lembrar que esta era com base na disponibilidade e vontade de quem quisesse ajudar firmemente, nunca uma preferência por chegada, altura, idade, cor, tom de voz, time de futebol preferido, era natural. Acabou não dando certo, quando o ano começou, pois tivemos mais perdas.

Não vou colocar o número de pessoas que temos “na ativa”, pra não correr o risco, novamente, da injustiça. O importante é:

ESTAMOS PRECISANDO DE VOLUNTÁRIOS.

E, abrindo o coração, isto é urgente e, se não resolvido, o resultado vai ser o pior. Conversando com outro amigo da oficina, ontem, notamos que não pensamos, também por erro nosso, num tipo de, por falta de palavra melhor, herança, aquele “passar a bola”. Até já foi levantada a discussão em algum momento, mas nunca com a devida atenção. Afinal, em algum momento, a vida nos levará a outro lugar. Sem falar em algum projeto que julgaremos ser mais importante, ideal ou visualmente, em algum momento da nossa vida, estudos ou qualquer outro tipo de limitação que provirá da nossa não onipresença.

Não quero voluntários de moda – volto, aqui, pra primeira pessoa do singular, pra assumir o risco de qualquer má interpretação e ciente de que não sou ninguém pra “querer” alguma coisa, sou apenas um ajudante, mas que sabe o quão alguém “em cima do muro” atrapalha. Precisamos, ali, de pessoas que entendam a importância do projeto, a importância nossa praquelas crianças, praquelas famílias, que vejam a real possibilidade, se empenhados estivermos, de fazer uma grande diferença na vida daquelas pessoas. É lamentável que tanta gente passou por ali e não notou essa importância ou “colocava a camisa da ONG” para usar de perfume.

Não é tão difícil, mas não é fácil. Exige uma parte do seu tempo, exige vontade, noção da responsabilidade. É coração, mas também razão (soou piegas, mas é isso).  Vai diminuir o sono da tarde de sábado ou o da manhã de domingo, uma parte da semana, um abraço a menos da filha, um passeio a menos com a namorada. Vai se desanimar de vez em quando. E poderia escrever mais um parágrafo com esses pequenos sacrifícios. Não acho que seja necessário apontar, aqui, os pontos positivos. Talvez seja melhor que venha sem expectativa, se entregue sem esperar nada. O resultado disto, como um efeito dominó, você nunca verá, só sentirá. 

Lidamos com vida, com cidadania, com valores, com a busca da vida eterna (o não cristão, agora, deve se assustar). Falando nisso, não quero que entenda, você que ainda está lendo, que prego aqui um contrato vitalício com a ONG. Quase plagiando um pensador, que seja de todo o coração, enquanto estiver lá.

Deturpada, exagerada ou não, essa é a ideia do Fagner, eu, sobre o voluntariado. Até a vida me mostrar outro projeto "maior" ou, por outros motivos, deixar a ONG (tem que ser algo muito bom), continuarei tropeçando, errando e tentando acertar com isso que chamo de trabalho mais gratificante do mundo

Atualização: E você, voluntário ou não, o que pensa do voluntariado?