28 de abril de 2008

12 de abril, primeira aula de Teatro

Depois de algumas semanas sem postar aqui no blog (cabe aqui um "desculpa!"), vou relembrar, para respeitar a intenção do “diário” da OC, um dos dias mais empolgantes para as crianças da Oficina: a primeira aula de TEATRO.

(A correria para postar é porque ainda estarmos correndo atrás de patrocínios e boa parte do nosso tempo de sobra está sendo designada para isso. Voltando...)

Claro que já tivemos aulas amadoras de teatro. Inclusive, vale lembrar que apresentamos na Sede uma peça para os voluntários, no semestre passado. Mas dessa vez foi diferente. Professor de Teatro no CEU Campo Limpo, Ricardo (estudante da USP) soube prender a atenção da criançada com sua informalidade e naturalidade com o assunto que mais chama a atenção das crianças. Mostrou total domínio do assunto e fez alguns ali que nunca tinham se soltado, perder um pouco da vergonha de falar em público. Aproveitou também para realizar algumas dinâmicas de integração.









Na verdade, o dia (há quase três semanas) era apenas uma amostra grátis para as aulas que teríamos durante a semana. Agora, com horário fixo (quinta à tarde), os alunos ainda não estão comparecendo em sua maioria, por motivos diversos. Alguns são babás de outras crianças, outros dos próprios irmão, alguns trabalham e outros ainda não estão no clima. Ainda faltando, portanto, aquele problema de comprometimento. Mas já estamos tomando as devidas providências e acreditamos que uma integração dos voluntários com as famílias das crianças fará uma importante diferença.

















É um grande passo para a OC por ser algo mais específico e mais prático, mais palpável e de resultado quase instantâneo. Estamos ainda aguardando por recursos para financiar essa etapa final do semestre, que termina ao fim de junho. Pegando, provavelmente, um pouquinho de julho.

11 de abril de 2008

Nos embalos de Syd Field..

No dia em que o cinema perdeu um de seus maiores personagens, o ator americano Charlton Heston, mais conhecido como “Ben Hur”, nossa oficina começava a criar seu primeiro de forma estruturada e mais complexa. Enquanto uns nascem e outros se despedem, a Oficina de Cinema do Projeto Vida Nova se esforça cada vez mais para transformar as crianças do Jd. Amália em personagens de sucesso de sua própria história.

A idéia de trabalhar com criação e conhecimento de personagens tomou forma em uma reunião realizada na casa do Mauro (“O Labirinto do Fauno”), onde estavam presentes Marina (“Na Natureza Selvagem”), Samuel (“Scanners”) e Thais (“O Plano Perfeito”). O tema, no entanto, já havia sido discutido em reuniões passadas e foi sobre um pré-cronograma montado por Fagner (“Billy Elliot”), que surgiu a tarefa para este sábado.

Após a tímida oração inicial do Jackson, as crianças foram divididas em grupos de 4 participantes, identificados com fitas coloridas de cetim. Foi passado, então, um trecho do filme “Desafiando Gigantes” (EUA, 2006), no qual foi possível conhecer uma parte do personagem principal “Grant Taylor”. Aplicando as técnicas que o roteirista Syd Field apresenta em seu livro “Manual do Roteiro”, orientamos as crianças a criarem a “vida interior” do personagem, ou seja, todos os dados e acontecimentos principais de sua vida, desde seu nascimento até o momento mostrado no filme.

A criatividade e o livre fluxo de idéias foram incentivados, entretanto, elaboramos algumas questões que, obrigatoriamente, deveriam ser respondidas para que a técnica do exercício não fosse perdida na proposta. Entre elas:
- Qual a idade dele no momento em que o filme começa?
- Onde ele vive, que cidade, país?
- Onde nasceu?
- É filho único, tem irmãos?
- Como foi a infância dele, feliz, triste?
- Ele tinha pai e mãe, qual era o relacionamento com eles, eram pais rígidos, amorosos, ausentes?
- Que tipo de criança ele era, introvertida, extrovertida, nerd, popular, etc?
- Estudou ou não? Fez faculdade ou não?
- Se casou, é solteiro, viúvo, divorciado, possui um grande amor, um amor proibido, etc.?
- Qual sua profissão?

O resultado da atividade foi surpreendente e divertido. As histórias, lidas à frente timidamente por uns e contadas com entusiasmo por outros, tomaram rumos trágicos, cômicos e, até mesmo, espelhados na própria realidade em que vivem. Foi o que pudemos perceber quando uma das crianças narrou que, quando os pais de Grant brigavam, a mãe dele batia no pai com uma panela. Todos começaram a rir, pois um episódio idêntico havia acontecido na favela com os pais de um dos integrantes da Oficina. Foi possível perceber, também, a dificuldade com que esses pré-adolescentes enfrentaram a infância, visto que nenhuma relatou esse período de modo feliz ou fácil.

As histórias criadas foram guardadas para que eles possam dar continuidade na próxima semana, abordando, no entanto, a “vida exterior” do personagem, que se caracteriza como o período de vida que se pode ver ao longo do filme.

Apesar do dia chuvoso, do desgaste com algumas crianças e da busca estressante por uma TV reserva (cedida gentilmente pelo Kelvin Bahia), o último sábado foi um dia gratificante, pois pudemos perceber visivelmente alguns resultados dos esforços empregados, como aumento da vontade, disciplina e criatividade nas crianças do Jd. Amália.

3 de abril de 2008

CineSesc dá aos paulistanos mais uma chance...

(...fugindo um pouco da Oficina, mas ainda no cinema...)

O blog da Folha "Ilustrada no Cinema" postou na última quarta-feira que o CineSesc, uma das melhores salas da capital paulista (digo isso, quanto à programação, não ao ambiente), irá exibir os melhores filmes que passaram pelos cinemas no ano passado.

Essa é a grande chance de assistir àquele filme que você, por algum motivo, não pôde conferir nas telonas quando estava em cartaz. O legal é a presença de longas que já chegaram nas locadoras, ou seja, fitas que estrearam no primeiro semestre (vide "Zodíaco") ou no segundo, como o brasileiro aclamado "Tropa de Elite", você poderá (re) ver. Falando em nacionais, outros brazucas estarão presentes, como "Querô", "A Casa de Alice", "Não Por Acaso" (com Rodrigo Santoro) e os excelentes "O Cheiro do Ralo" (com Selton Mello) e "Cão sem Dono" de Beto Brant.

Outro ponto positivo na seleção é a exibição de filmes que não receberam a merecida atenção quando em cartaz, como o francês "Piaf - Um Hino ao Amor", vencedor do Oscar de Melhor Atriz para Marrion Cotillard nesse ano, o alemão "A Vida dos Outros", vencedor do Oscar do ano passado de Melhor Filme Estrangeiro e o subestimado "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", com o galã Brad Pitt.

Até os diretores "difíceis" estarão lá. É o caso de Lars Von Trier e David Lynch, respectivamente, com "O Grande Chefe" e "Império dos Sonhos". É certo que ainda não dá pra entender a presença do razoável blockbuster "Piratas do Caribe - No Fim do Mundo", que recebeu atenção até demais dos cinemas nacionais, mas isso é nada perto da boa seleção feita por público e críticos. Vale a pena conferir, mesmo aqueles que já estão em DVD.

O festival acontece entre os dias 8 e 24 de abril, no CineSesc.
Endereço: R. Augusta, 2.075
Telefone: 3087-0500
Ingressos a R$ 6

Segue abaixo, a programação completa, copiada do blog da Folha.

8 de abril – terça-feira

14h30 - "Batismo de Sangue", de Helvécio Ratton
16h30 - "Mais Estranho que a Ficção", de Marc Forster
19h - "A Rainha", de Stephen Frears
21h - "O Passado", de Hector Babenco

9 de abril – quarta-feira

14h30 - "Noel, Poeta da Vila", de Ricardo van Steen
16h30 - "Novo Mundo", de Emanuele Crialese
19h - "O Grande Chefe", de Lars Von Trier
21h - "Piaf, Um Hino ao Amor", de Olivier Dahan

10 de abril – quinta-feira

14h30 - "Cão Sem Dono", de Beto Brant
16h30 - "Babel", de Alejandro González Iñarritu
19h - "Em Paris", de Christophe Honoré
21h - "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", de Andrew Dominik

11 de abril – sexta-feira

14h30 - "Notas sobre Um Escândalo", de Richard Eyre
16h30 - "O Cheiro do Ralo", de Heitor Dhalia
19h - "A Via Láctea", de Lina Chamie
21h - "Império dos Sonhos", de David Lynch

12 de abril – sábado

14h30 - "Baixio das Bestas", de Claudio Assis
16h30 - "Babel", de Alejandro González Iñarritu
19h - "Jogo de Cena", de Eduardo Coutinho
21h - "A Vida dos Outros", de Florian Henckel von Donnersmarck

13 de abril – domingo

14h30 - "A Casa de Alice", de Chico Teixeira
16h30 - "Em Busca da Vida", de Jia Zhang-ke
19h - "Maria", de Abel Ferrara
21h - "Tropa de Elite", de José Padilha

14 de abril – segunda-feira

14h30 - "A Culpa é do Fidel", de Julie Gavras
16h30 - "À Procura da Felicidade", de Gabriele Muccino
19h - "O Violino", de Francisco Vargas
21h - "O Sobrevivente", de Werner Herzog

15 de abril – terça-feira

14h30 - "Não por Acaso", de Philippe Barcinski
16h30 - "Conduta de Risco", de Tony Gilroy
19h - "Vermelho como o Céu", de Cristiano Bortone
21h - "Zodíaco", de David Fincher

16 de abril – quarta-feira

14h30 - "A Comédia do Poder", de Claude Chabrol
16h30 - "Cartas de Iwo Jima", de Clint Eastwood
19h - "A Casa de Alice", de Chico Teixeira
21h - "O Passado", de Hector Babenco

17 de abril – quinta-feira

14h30 - "Saneamento Básico", de Jorge Furtado
16h30 - "Medos Privados em Lugares Públicos", de Alain Resnais
19h - "Viagem a Darjeeling", de Wes Anderson
21h - "Piratas do Caribe – No Fim do Mundo", de Gore Verbinski

18 de abril – sexta-feira

14h30 - "Proibido Proibir", de Jorge Duran
16h30 - "Pecados Íntimos", de Todd Field
19h - "Querô", de Carlos Cortez
21h - "Tropa de Elite", de José Padilha

19 de abril – sábado
14h30 - "A Via Láctea", de Lina Chamie
16h30 - "Piaf, Um Hino ao Amor", de Olivier Dahan
19h - "Santiago", de João Moreira Salles
21h - "Uma Mulher Sob Influência", de John Cassavetes

20 de abril – domingo

11h - "As aventuras de Azur e Asmar", de Michel Ocelot
14h30 - "Jogo de Cena", de Eduardo Coutinho
16h30 - "A Vida dos Outros", de Florian Henckel von Donnersmarck
19h - "O Preço da Coragem", de Michael Winterbottom
21h - "No Vale das Sombras", de Paul Haggis

21 de abril – segunda-feira

11h - "Ratatoiulle", de Brad Bird
14h30 - "Em Busca da Vida", de Jia Zhang-ke
16h30 - "Ratatoiulle", de Brad Bird
19h - "Cartola", de Lírio Ferreirra
21h - "Lady Chatterley", de Pascale Ferran

22 de abril – terça-feira

14h30 - "Possuídos", de William Friedkin
16h30 - "O Amor nos Tempos do Cólera", de Mike Newell
19h - "O Engenho de Zé Lins", de Vladimir Carvalho
21h - "O Último Rei da Escócia", de Kevin Macdonald

23 de abril – quarta-feira

14h30 - "Mutum", de Sandra Kogut
16h30 - "A Vida dos Outros", de Florian Henckel von Donnersmarck
19h - "Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá", de Silvio Tendler
21h - "O Hospedeiro", de Joon-ho Bong

24 de abril – quinta-feira

14h30 - "500 Almas", de Joel Pizzini
16h30 - "A Leste de Bucareste", de Corneliu Porumboiu
19h - "Carreiras", de Domingos de Oliveira
21h - "Em Busca da Vida", de Jia Zhang-ke

2 de abril de 2008

Missão: Conscientização

Com a ausência dos alunos na Oficina durante os dias da semana, chegamos à conclusão que seria necessário uma conversa com eles. Lógico, de nenhuma maneira, poderíamos chegar e “soltar os cachorros” (como passou pela minha cabeça, admito), mas teríamos que pensar num método de conscientizá-los sobre a nossa intenção, sobre o quê aquilo seria pro futuro deles e, claro, mostrar a todos que sem COMPROMETIMENTO nada seria possível.

Marcamos uma reunião num feriado ensolarado de sexta (da paixão) no Pq. Burle Marx. Tópico a ser discutido: o que fazer para alcançar esse objetivo de conscientizar e atrair as crianças para aparecer nos dias de terça e quinta. Por ser num fim de semana de feriado, poucos estavam em São Paulo. Éramos, então, apenas Fabi (“O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”), Mauro (“Magnólia”), Samuel (“Laranja Mecânica”), Thais (“Antes do Pôr-do-Sol”) e eu (“Filhos da Esperança”).

Outro grande problema dessa ausência era os voluntários internos aparecerem com as aulas preparadas (duas vezes por semana) e não encontrar nenhuma alma viva para assistir. Na verdade, uma única vez, apareceram sete crianças. Era questão de tempo, para esses voluntários (ocupados com trabalho de faculdade, estágios, sem falar nos bolsistas que trabalham na faculdade) pular fora. Como coordenador, a parte de conversar cabia a mim. Não sou muito bom em falar em público, ainda mais para crianças (começo a gaguejar, fico nervoso, sou redundante e, às vezes, pouco objetivo), mas essa era pra mim.

Percebemos que tão importante quanto conscientizá-las, era necessário também atraí-las. (Pensei agora se colocaria ou não as coisas que decidimos fazer, mas resolvi colocar justamente pra termos um registro do quê nos comprometemos a fazer.) Decidimos, então, correr atrás de entradas para circos, teatros e cinema. E, como conversei com uma amiga, agendaríamos até uma visita delas numa emissora de televisão, se fosse necessário. Claro, algumas coisas meio que fogem do objetivo principal, mas serviriam todas como ânimo e, de alguma forma, mostrariam que estávamos dispostos a correr atrás de qualquer coisa para incentivá-las.

Sábado IV - "O Sermão"

Escolhemos o sábado último, 29 de março, para a tão necessária conversa. Em contraste com a ensolarada sexta e rimando com o clima que seria o papo, o tempo estava fechado e anunciava a chuva que estava por vir. Afinal, não era exatamente um diálogo, não haveria partipação e nem dinâmica. Era algo bem próximo da sala de aula, onde o professor (no caso, eu) fala até perceber que tudo está bem entendido por todos. Os voluntários do UNASP estavam lá. Era preciso fazê-los perceberem que contamos com eles, mais ainda, que somos um só, visando o mesmo objetivo.

Postos todos em cadeiras à lá escola de ensino fundamental (nem o sofá localizado na lateral da sala, onde geralmente há mais bagunças, foi liberado), a "aula" foi iniciada. Foi notável o quanto prestaram atenção e demonstraram estar entendendo, mesmo com alguns (3 ou 4, entre quase 30 crianças) não concordando. Falando em "não concordando", um dos pontos era deixar claro que a partir de agora, só ficariam os interessados. Não será mais aceito "corpo-mole" ou algo parecido. Deixei, também, claro que era impossível sair dali algum cineasta. Fui sincero. Nossa intenção é criar em cada um ali, um senso crítico, uma noção e, claro, quem sabe, fazer alguém achar no cinema uma paixão, oportunidade, cultura ou, no mínimo, um bom entretenimento.

Eu precisava também mostrar alguma coisa que deu certo. Era meio "invisível" pra todas aquelas pessoas, alguma coisa ali, no meio de uma favela no Capão Redondo, ser interessante. Fala sério, elas estão acostumadas a tomar só bronca em casa, ouvir que não valem nada e que não têm futuro. E me vêm um magrelo dizendo que com aquilo ali poderiam, se houvesse comprometimento, aprender alguma coisa de útil pra vida? Difícil.

Lembrei do extra do DVD de "Cidade de Deus" que eu havia visto rapidamente na casa de um amigo. Não lembrava de detalhes, mas, no mínimo, sabia do que todo mundo já sabe: tirando meia dúzia de atores profissionais no premiado longa (Matheus Nachtergaele, Gero Camilo, Alice Braga, etc), todo o resto do elenco é composto por atores encontrados nas favelas da cidade do Rio de Janeiro. Quer incentivo melhor? Depois do papo, passei os primeiros 22 minutos do extra "Oficina de Atores". No vídeo, o "Zé Pequeno", o "Buscapé" e outros da equipe responsável pela oficina de atores falam sobre a importância do comprometimento, da empolgação e da naturalidade necessária nesse tipo de projeto.

Terminado o vídeo, a premiação, como fora prometido no outro sábado, foi realizada. As melhores atuações e os que mais participaram receberam da coordenação receberam algumas lembranças. Lembranças pequenas, já que por enquanto saem todas dos bolsos dos colaboradores.

Agora, é com a gente. Correr atrás de patrocínio, de gente pra ajudar, de teatro, ingressos mais baratos, recursos, materiais, meio de transporte, equipamentos etc. Como diz o velho clichê, a luta continua.