22 de dezembro de 2008

Do Nosso Lado


Em meio à garoa, em uma noite fria na cidade de São Paulo, foi fácil confundi-los com o lixo. Qualquer saco plástico embaixo de pontes ou prédios, um amontoado de papelão, qualquer movimento, já se diminuía a velocidade do carro e os vidros se abaixavam à procura deles. Não eram animais, como cães ou gatos, que dedicamos nosso sorriso de compaixão toda vez que encontramos algum na rua sem dono; eram, sim, homens e mulheres, dos mais jovens aos mais velhos, do sozinho embaixo do viaduto ao casal aconchegado próximo a igreja. São aproximadamente 10.000 moradores de rua na maior metrópole do país.

Cansados de apenas conversar sobre Deus e a ajuda ao próximo, um grupo de amigos resolveu sair às ruas de São Paulo. Não com a pretensão de resolver os problemas dos moradores de rua. Desejavam buscar um contato maior com essas pessoas tão próximas, mas de realidade tão distinta. Depois que o gerente do restaurante da UNASP Campus I gentilmente cedeu quase todo o alimento necessário, a equipe preparou sanduíches, sucos e rumou à Santo Amaro, bairro da Zona Sul da cidade.

Poucos minutos no local e já encontraram junto ao Terminal de ônibus a primeira família. “Ah, aqui não tem crianças, graças a Deus”, disse um mais jovem quando perguntado sobre a questão de menores na rua. “A única criança aqui é a minha mulher”, atravessou um senhor negro de barba branca, dentro de uma barraca com a sua companheira. Uma enfermeira do grupo demonstrou preocupação com a situação. “Mas o senhor usa sempre camisinha, certo?”. O senhor desconversou. A alguns metros da cena, o rosto de outro ajudado sangrava. Não dava pra saber o motivo. O medo misturado com a inexperiência nesse tipo de situação fez a moça entregar o lanche e voltar rápido, preocupada com a própria segurança. O que teria acontecido? Como irá se tratar? No carro, a notícia do sangramento trouxe uma sensação de agonia: “nada será suficiente”. Sensação que voltaria mais tarde aos corações daqueles jovens, e jamais sairia.

Como marinheiros de primeira viagem, um erro em poucos minutos foi notado. Apesar de haver muitos necessitados, aquele não era o bairro certo. Era difícil encontrá-los. O centro de São Paulo sem dúvida é também o centro dos moradores de rua, por isso, rumaram para lá. No caminho, ainda em Santo Amaro, encontraram outros amigos e, juntos, distribuíram àqueles que avistavam no caminho mais alguns lanches.

Agora, eram três carros. Todos com um pouquinho de suprimento. Chegaram ao centro e em alguns minutos o primeiro carro ligava ao outro de trás. Sua parte havia acabado e, por ser tarde, voltavam para casa. “Vai faltar muito lanche”, o restante pôde perceber. Não estavam errados. Se outrora se procurava a quem dar, dessa vez tropeçava-se neles, à medida que o grupo se aproximava do marco zero da cidade.

Próximo à Prestes Maia, um homem magro estava com um dos braços estendidos, parado, sem camisa, olhando pra sua “casa” de papelão e plástico, como se mirasse onde pretendia ir. Os carros pararam. Uma das garotas, passageira do terceiro carro, descia apressada. Disseram pra esperar, um homem seria mais seguro. O motorista do segundo carro desceu com o lanche. O irmão deste, o cinegrafista, com medo, esquece a câmera e acompanha o entregador. Que homem era aquele? Quem seria? Um louco? Drogado? Bêbado? Ou tudo isso? “Senhor, trouxe um lanche para o senhor”, dizia o motorista. Ignorado, tentou novamente. E outra vez e mais uma. Aquele homem agora voltava lentamente para aquilo que chamava de leito. Sem dar nenhuma palavra, sem virar o rosto, sem nem se interessar pelo lanche. Como que desistindo, o motorista deu as costas, parou e voltou. Agora, o senhor, ainda com dificuldades para se equilibrar, se acomodava. O crack em suas mãos era possível notar. “Trouxe um lanche para o senhor, para tirar sua fome”, tentou mais uma vez. Já estava tomado pelo horror da cena quando descarregou “um lanche senhor, larga essa merda, ela vai te matar, larga essa merda” e deixou a refeição ao lado do homem. “Não importa se é bêbado, drogado ou se ele acha que quer ficar ali, é um humano vivendo como um cão. É simples!”, disse o motorista quando voltou ao carro, fazendo referência a tantas desculpas usadas ao se deparar com um pedinte.

No caminho, seguindo para a Praça João Mendes, encontraram mais quatro simpáticos moradores da rua embaixo de um viaduto. 200 metros dali, um punhado de jovens se amontoavam em frente a uma casa de dança. Não é sensacionalismo afirmar que surdos somos para não notarmos o grito silencioso daqueles que precisam de ajuda. Estão do nosso lado todos os dias. De tão cegos, tropeçamos neles e continuamos a fazer nada.

Chegaram à praça do fórum, onde entregaram os últimos sanduíches e sucos. Um casal bonito e bem cuidado dormia aconchegado à porta do prédio. Imagem tão linda quanto curiosa. Na volta, não sabiam exatamente qual sentimento manteriam em seus corações. A tristeza de não terem feito nada comparado a milhares daqueles existentes na cidade ou a vontade de cada dia fazer mais. Mantiveram aquele que fará ainda muita diferença.

Orgulho? Que orgulho teriam se com o quê comumente resta do restaurante mais o resto do dinheiro e com a força que restou ao fim de semana, puderam saciar a fome de poucos necessitados? De resto já estão fartos. Precisam de mais. Nós precisamos de mais. Enquanto o homem se enganar pensando que quanto mais se tem mais se deve ganhar, acumular-se-ão, dia após dia, mais e mais humanos desejando viver como nossos cães. Portanto, não façamos da ajuda àqueles que menos têm uma moda, que aos olhos é tão belo, mas ao fim da estação se acaba. Empenhemos mente e coração na busca de, senão uma solução, uma melhora na vida do nosso próximo.

4 de novembro de 2008

Retrat(ação): Olhares do Amália

Se fosse pra eu citar um dia que sempre será lembrado na Oficina de Cinema do Projeto Vida Nova, diria 1º de novembro de 2008. E penso não estar sozinho na escolha. Afinal, essa foi a data de abertura da nossa primeira exposição fotográfica, “Retrat(ação): Olhares do Amália”, primeiro resultado público do trabalho de nós, voluntários, dos alunos e do grupo Mnemocine, professores do curso de fotografia.

Mas para alguns, realizar este evento não foi muito simples. Incontáveis e-mails discutindo sua realização, madrugadas pensando no projeto (que o digam Pamella Hein e Rodrigo Serafino, arquitetos idealizadores da parte visual), mudanças de data, busca dos melhores preços, imprevistos inacreditáveis, orçamento apertado, viagens (algumas em vão) a distantes bairros de São Paulo (Samuel Siqueira e Fabiana Vaz foram para no Brás) buscando o melhor material, muita cara de pau, cobrança dos patrocinadores. Impossível lembrar de todo o trabalho dos oficineiros até chegar esse dia. Até o presidente da ONG, Erick Pomin, precisou intervir em um momento onde já se sentia, entre alguns voluntários, aquele ar de “já era, a exposição”.

E ainda nem falei dos últimos instantes, aqueles que já estávamos com parte do material em mãos. O já citado casal Rodrigo e Pamella já havia perdido noites de sono terminando o projeto - aquela parte que é feita usando apenas conceitos e muitas idéias. Os dois tinham até passado para o computador, deixando tudo redondinho pra nós, leigos, entendermos. Na quinta, voluntários puderam passar boa parte da noite cortando, lavando (no chuveiro!) e secando (com pano de prato!) acetato e montando algumas caixas, pra adiantar o trabalho que só terminaria com a chegada do material da gráfica na sexta.

Na noite do dia 31, voltamos para terminar o trabalho, já com tudo em mãos. Alguns ali não imaginavam que a noite seria tão longa. Pra economizar o seu tempo de leitura, vou pular as inúmeras atividades realizadas, que iam desde minuciosos cortes de adesivo pela Pamella e Rodrigo, com participação de Thais Guin, até o leva e traz de sensíveis caixas de papelão. Chegamos, enfim, ao Shopping Campo Limpo para a montagem definitiva. Depois de alguns minutos em frente ao portão errado e outros em frente ao correto, conferindo os nomes dos autorizados, adentramos ao Shopping. De lá, sairíamos na manhã do sábado, duas horas antes do evento. Isso, “no talo”.

“No talo” descreveria também o nosso material. Onde já se viu uma equipe realizar uma exposição sem nenhuma margem de erro. “Teremos 65 caixas na exposição”? Ok, 65 caixas compraremos. Um minúsculo acidente, uma caixa com defeito, um acidente de percurso, qualquer erro e teríamos um “buraco” na exposição. Nem nos adesivos, usamos previmos qualquer erro. Uma colagem errada (aquela “bolha” tão comum em qualquer adesivagem), um corte errado, qualquer coisa impactaria diretamente na exposição. Sem falar que, no caso de acontecer algum imprevisto, não teríamos nem como correr atrás de material substituto – alguém aqui conhece loja Kalunga que fucione 24 horas? E gráfica? E uma fábrica ou revendedora de caixas de papelão (!)? Incrível, mas tudo saiu como deveria sair.

Um café da manhã abriu o tão aguardado evento. Emocionantes palavras do presidente Erick Pomin, do superintendente Eduardo Jorge e da Sonae Sierra Brasil pela pessoa da Lídia Gomes anunciavam oficialmente a abertura da exposição. Uma recompensa surpreendente. Tanta felicidade nos olhos dos alunos ao verem suas fotos sendo apreciadas por todos os presentes e tanta gratidão dos patrocinadores ao verem seus recursos rendendo bons frutos fizeram nossos esforços pré-exposição parecerem tão pequenos.

Tantos nomes para serem lembrados nesse momento tão importante pra Oficina. Da ONG e seu freqüente apoio. De todos os voluntários que dedicamos nosso tempo e carinho a essa empreitada. Dos alunos presentes. Dos nossos amigos que sempre nos apóiam. Da Sonae Sierra Brasil que nos deu essa oportunidade. Do Shopping Campo Limpo, por ceder seu espaço e pela doação de 10 câmeras fotográficas conseguidas pelo superintendente Eduardo Jorge - que essa parceria perdure por muito tempo.

Por último - e mais importante - um agradecimento a Deus que esteve presente em todos os momentos, desde a aprovação do projeto de Oficina de Fotografia até essa tão memorável exposição que estará na memória da Oficina de Cinema e de seus participantes para sempre
. E que venha a Rouanet!!!





Acima, a prova do crime. De frente para trás, Pamella, Rodrigo (arquitetos absurdos), Fagner, Stela, Marina, Thais e Mauro. Samuel e Fabiana estiveram lá também. Muitos outros ajudaram, mesmo que não presentes, mas de alguma maneira.

18 de setembro de 2008

Oficina em Quadrinhos

Ao contrário de seu Blog, que não é atualizado desde 11 de agosto, a Oficina de Cinema do Projeto Vida Nova continua bem. No último domingo, finalizamos a Oficina de Fotografia. Ministradas pela Mnemocine, as aulas merecem até um post a parte, com mais detalhes, portanto, não vou tocar muito no assunto. Pra dar uma idéia, muito em breve, as fotos estarão expostas no Shopping Campo Limpo, localizado nas redondezas da comunidade.

Há alguns sábados, demos início a uma atividade bem interessante: História em Quadrinhos. Numa conversa informal com o professor Flávio Brito (Mnemocine), tivemos a confirmação de algo que já havíamos pensado, mas que o preconceito atrapalhou um pouco: o uso das HQs como disciplina para a Oficina. "(A HQ) é o contrário do Rádio, onde você ouve o som e imagina as imagens. Nas HQs, você vê a imagem, lê os diálogos e imagina o som", simplificou Brito.

Não deu outra, em algumas semanas estaríamos introduzindo o tema no Projeto Vida Nova e a coisa renderia mais do que imaginávamos. Criamos as nossas primeiras tiras. Depois de uma rápida explicação sobre o mundo dos quadrinhos, apresentada por Wesley Modro, partimos para a atividade. Aplicando algumas histórias da Bíblia, os alunos fizeram suas versões das histórias e as colocaram no papel em forma de gibi.

As HQs dos alunos, como uma surpresa pra eles (mais do que merecida), serão transformadas em um gibi de verdade, com boa qualidade e ficará na ONG, numa futura Gibiteca, disponível para quem quiser ler.

Agora, é continuar a correr atrás da Lei Rouanet, de mais patrocínios, mais amigos, mais professores e buscar sempre a melhor forma de lidar com as crianças. Falando nisso, estamos conseguindo um acompanhamento psicológico com os alunos - nem sei se poderia escrever isso por aqui.

11 de agosto de 2008

Corta! Nosso Primeiro Dia de Gravação

Não sei se é empolgação minha, mas o primeiro “Corta!”, dito no último sábado, dia 9 de agosto, entrou para a lista dos melhores momentos da Oficina de Cinema do Projeto Vida Nova. Esse dia marca o começo das gravações do nosso primeiro curta-metragem.

Pra quem não está acompanhando o blog, este curta é o primeiro de dois, escrito pelos próprios alunos. Com o tema aborto ou gravidez precoce, eles criaram uma história e fizeram o primeiro esboço de roteiro, que, mais tarde, foi revisado por Marina, Mauro e eu. Depois de alguns sábados de ensaios, achamos que, para termos um produto até o fim do semestre (essencial, para quem pretende buscar patrocínio), teríamos que começar ainda no mês de agosto as gravações. E assim o fizemos.

Com a ajuda do professor de teatro Ricardo Fialho e a queridíssima Aninha, formada em Rádio e TV, que vêm ajudando desde o começo dos ensaios, gravamos um pouco do curta 2 (ainda sem título), do grupo da Marina. Além destas pessoas, outra também foi extremamente importante; a dona da nossa primeira locação. Difícil alguém ceder sua casa para quase dez crianças, entre atrizes e maquiadores, sem contar nós, voluntários e professores. Por meio da Marina, chegamos a Susie, que gentilmente cedeu sua casa, seu quarto, sua cama, água, enfim, tudo.

Yasmin, uma de nossas alunas, filmou, sob direção ora da Aninha (que também ajudou com a fotografia) ora do Ricardo e algumas poucas interferências minhas, a primeira cena com as atrizes Sabrina, Jéssica, Jéssica e Emilie. Gravamos das 17h15 á 19h15, dois planos gerais e alguns closes. Foi um bom aproveitamento. Com apenas duas horas, poderemos, na hora da edição, aproveitar algo próximo de um minuto. Excelente.

Além das pessoas citadas, gostaria de agradecer à CineVideo, que gentilmente emprestou o material para iluminação, e, como de costume, a todos os voluntários. Alguns (Rodrigo, Mauro, Marina, Thais e outros) com a mão na massa, que chegaram mais cedo, para acertar a locação, e outros (Stela e Fabi) encarando uma reunião da ONG sobre projetos futuros desta. Sem falar o retorno do Wesley Modro à "grade" de voluntários.

29 de julho de 2008

Entre Quatro Paredes

“Na educação, fracassos são mais importantes que sucessos. Nada é mais triste que uma história de sucessos”. A frase é do livro “O Ouvido Pensante”, de Murray Schafer, e foi apresentada pelo professor de cinema da FAAP Flávio Brito, na primeira reunião entre Mnemocine e voluntários que aconteceu esse domingo na sede da ONG. Reunião esta que marca também o retorno de um dos “primatas” da Oficina de Cinema do Projeto Vida Nova, Rodrigo Serafino.

Enquanto a reunião acontecia, apenas os professores do curso de Fotografia ficaram com os alunos. Como não estávamos presentes, não tem como contar como foi. Após a aula, conforme combinado e acertado com as crianças, com mais de uma semana de antecedência, houve uma exibição de dois curtas de animação, um sobre lendas nacionais e outro, a arte de contar histórias. O objetivo, integrar voluntários, professores, alunos e famílias destes. Mais a frente, retomarei esse assunto.

Na reunião, Samuel, Mauro, Rodrigo, Thais, Fabi e eu (mais tarde, chegaria Marina), trocamos idéias sobre técnicas pedagógicas e sobre a Lei Rouanet (o nosso projeto fica pronto no próximo mês), entre outros assuntos, com Flávio, o consultor pedagógico da Mnemocine. Aprendemos bastante e vimos, novamente, no grupo uma possível duradoura parceria. Mas são inevitáveis perguntas do tipo “será que chegaremos a esse nível?” (me refiro às oficinas citadas na reunião e outras grandes que vemos por aí), “como faremos isso?”. Escrevo isso sozinho, não falo pelos outros voluntários. Vejo em tantos projetos nomes como o da Petrobras, Votorantin, para citar as mais conhecidas, e penso o quanto inatingível isso parece ser. Invejosamente falando, baixando o nível, eu poderia muito bem dizer “assim, até eu”. Que feio. De qualquer forma, o saldo da reunião foi extremamente positivo. Com o tempo, postaremos aqui nossos planos e do que correremos atrás nos próximos meses com mais cuidado nas próximas semanas.

Ao contrário do otimismo predominante no blog, resolvi hoje registrar também o meu medo. De fato, esse sentimento já foi apresentado aqui, mas sempre precedendo alguma resposta positiva. E hoje realmente não posso garantir essa resposta, exceto uma ligação milagrosa no meio da escrita ou, quem sabe, o meu bom senso aponte o lado bom das coisas. Lado que costuma ser menosprezado.

Temos algumas dúvidas que lidamos diariamente. Qual será o próximo passo até o grande projeto? Quais recursos nós usaremos até lá? Qual o próximo tema a ser discutido? Como abordar? Quem, dentre alunos e professores voluntários, ficará até o fim? Estamos nos esforçando o bastante? E o mais importante, sem dúvida: farão essas coisas diferença na vida das crianças? Mas essas, de tanto procurarmos respostas e, temporariamente, encontrarmos, não nos causam mais desânimo. Mas no último domingo, um triste acontecimento serviu para mostrar um (para nós) novo problema; lembra da exibição que falei ali atrás, para integrar professores, voluntários e família dos alunos? Chegado o fim da aula, apenas uma mãe compareceu à programação.

Quando as crianças se animam, quando firmamos uma equipe na mesma sintonia, quando um reforço retorna, quando problemas pessoais são suportados, quando conseguimos recursos para aula de fotografia, acabamos nos esbarrando num problema lá dentro das casas de nossos alunos. Não estou aqui escrevendo revoltado com esses pais. É fato que, quando percebi, fiquei indignado, claro, mas essa revolta foi trocada por um medo de como lidar com essa emergente situação. E, pensando bem, fomos ingênuos de não perceber isso antes. A verdade é que não temos, crianças e voluntários, um apoio essencial desde o começo do projeto. Não quero generalizar, não sei o motivo de cada ausência, mas UMA mãe, em uma tarde de domingo?

Vem-me à memória a mãe de uma aluna, quando fomos apresentar o projeto de Fotografia a todos os pais. “Mas o quê minha filha ganha com isso?”, ela disse. “Antigamente, a ONG dava brindes, brinquedos, comida. Nunca mais deram”. Vimos que se a necessidade dos pais é imediata, a dos filhos destes é ainda mais. E um grupo de “playboy” chegando de pára-quedas anunciando uma aula de fotografia não parece atrair a atenção deles. Não os culpo, é sério. Não vou me delongar, colocando minha opinião sobre o quão mais embaixo esse buraco é. Se é política, cultura, educação, preconceito das partes envolvidas ou tudo isso e mais um pouco, não sei, mas um dos nossos objetivos esse semestre será deixar claro a estas famílias o quanto esse trabalho é importante e o quanto o seu apoio é necessário.

O bom senso me mostrou, ali, ali no meio, entre nós professores/voluntários e pais preocupados com o aqui e agora, aqueles meninos. Não é novidade que pérolas como “entra pra casa, filha da puta”, “vou quebrar sua boca na porrada” ou “não vai praquela merda de ONG, enquanto não terminar de arrumar sua casa” seja comum na vida das crianças – uma volta na comunidade, e frases mais criativas que essas são fáceis de ouvir. E não é mentira que soltar pipa em pleno mês de férias seja mais agradável que sentar por duas ou três horas pra aprender um pouco de fotografia, roteiro ou teatro. Por sinal, no mês de julho, não só continuamos com as aulas de sábado, como inserimos aos domingo o curso de fotografia. Ainda assim, aproximadamente 20, das 25 crianças inscritas na Oficina, compareceram em todas as aulas em julho, férias escolares e das outras oficinas da ONG.

Como já foi escrito aqui diversas vezes, não foi fácil chegar onde estamos. Mas graças aos fracassos, com o perdão do clichê, aprendemos. Tão importante quanto o diploma e a leitura dos trilhantes desse caminho, é a experiência. De fato, estamos um pouco longe da linha de chegada. Aliás, até onde pretendemos chegar se tornou uma incógnita, pois quanto mais andamos mais sentimos o quanto mais longe podemos chegar, não por nós (“jura?”), mas por essas crianças.

25 de julho de 2008

Primeira Aula de Fotografia (Vídeo)

Abaixo, um vídeo postado no YouTube pela galera da Mnemocine. Esse foi o primeiro dia na Oficina de Fotografia.

Para ler mais sobre esse primeiro dia, cliquei aqui.




Um obrigado aos voluntários, ao pessoal ponta firme da Mnemocine e a Sonae pelo apoio.

Beijo a todos.

5 de julho de 2008

Agora vai...

Mesmo em clima de férias, os adolescentes da Oficina de Cinema puderam, neste sábado, concluir a terceira etapa da produção do curta metragem, que incluía o término do roteiro, assim como definição do elenco, diretores, cinegrafistas, figurino e locações. A idéia era aproveitar as férias escolares e deixar tudo pronto para os ensaios e a filmagem que começarão na próxima semana.

A atividade começou com uma dinâmica sobre as cegueiras da vida. Escolhemos dois alunos e lhes demos a instrução de segurar um bastão de jornal e ficar com olhos vendados. Quem acertasse o outro mais vezes seria o campeão. No meio da prova, retiramos a venda de apenas um deles, sem o conhecimento do outro, criando um quadro desigual. Através desse quadro, assistido por todos da oficina, pudemos discutir sobre as injustiças que nos cercam, coisas do cotidiano que nos chegam e sobre a verdadeira cegueira.

A atividade seguiu com a finalização do roteiro. Para quem não acompanhou os posts recentes sobre a Oficina de Cinema, estamos produzindo dois filmes (curta metragem) baseados naquilo que foi aprendido durante uma palestra sobre educação sexual. O vídeo está sendo produzido pelos alunos que durante o semestre tiveram aulas de criatividade, criação de personagens e desenvolvimento de roteiro. O primeiro vídeo fala sobre o uso da camisinha, enquanto o segundo trata do aborto e suas conseqüências.

A definição dos personagens e das tarefas nos possibilitou introduzir as noções básicas de filmagem para os cinegrafistas (Yasmim, Wagner e Vítor). Após um breve treinamento, eles já partiram para ação e começaram a filmar um making off com imagens dos ensaios e dos bastidores.

Mesmo com um número reduzido de alunos em função das férias escolares, a atividade foi bastante produtiva. Ao olharmos para aqueles adolescentes comprometidos e animados com a criação do roteiro, com a história, com a possibilidade de passar uma idéia através das câmeras, não pudemos deixar de lembrar do início, quando parecíamos implorar por atenção e envolvimento. O empenho de todos da Oficina de Cinema nos animou bastante para a produção dos curtas e para buscarmos, cada vez mais, idéias e temas que possam mudar a vida desses jovens através da arte do cinema.

"Creio no Cinema, arte muda, filha da Imagem, elemento original de poesia e plástica infinitas, célula simples de duração efêmera e livremente multiplicável. Creio no Cinema, meio de expressão total em seu poder transmissor e sua capacidade de emoção, possuidor de uma forma própria que lhe é imanente e que, contendo todas as outras, nada lhes deve. Creio no Cinema puro, branco e preto, linguagem universal de alto valor sugestivo, rico na liberalidade e poder de evocação."
Vinicius de Moraes

Até a próxima semana!

1 de julho de 2008

29/06 Um grande dia para OC do Projeto Vida Nova!

Enfim chegou o grande dia, um dia que para muitos não soaria como algo tão grande, por sinal, numa análise fria, poderia ser considerado até como um dia medíocre. Mas para nós, voluntários e adolescentes da Oficina de Cinema, com certeza UM GRANDE DIA!

Neste último domingo, 29/06/2008, teve início a oficina de fotografia para os adolescentes da Oficina de Cinema do projeto VIDA NOVA.

Para que você que está lendo possa entender a razão de havermos considerado o último domingo UM GRANDE DIA, vou explicar um pouquinho de nossa trajetória até chegarmos no dia 29/06.

Do meio para o fim do ano passado, o Projeto Vida Nova se viu perante um grande dilema. “Como atrair os adolescentes que se mostram cada vez mais desinteressados pelas atividades do Projeto?” Foi quando alguns dos dirigentes tiveram a idéia de chamar alguns voluntários para iniciarem uma oficina de cinema.

Sem recursos para bancar professores profissionais, os dirigentes da ONG buscaram entre seus amigos aqueles que demonstravam um interesse especial pelo cinema, ainda que por hobby, para que pudessem dirigir a oficina que iria se iniciar. Nessa busca, toparam com o Fagner, que prontamente se dispôs a formar uma equipe para estabelecer uma oficina de cinema dentro do Projeto Vida Nova.

O desafio estava lançado, e a pessoa que vos escreve ainda nem sonhava em participar do projeto, mas soube através dos relatos que a missão não foi nada fácil. A falta de comprometimento de alguns voluntários, a decepção com algumas pessoas que pareciam ser confiáveis, a falta de experiência dos voluntários comprometidos, a apatia dos adolescentes e a falta de recursos eram, certamente, dentre outros fatores, os principais adversários para que a Oficina de Cinema pudesse deslanchar.

Entre trancos e barrancos, e com aparentemente maiores derrotas do que vitórias, alguns voluntários persistiram rumo ao alvo de ver a Oficina de Cinema transformando a vida dos adolescentes do Projeto. Foi quando um desses sonhadores, Fagner, no começo do ano me chamou para fazer parte do grupo.

Fiquei muito empolgado, mas logo me intimidei na presença de adversários tão grandes. Mas incentivado por aqueles que ali estavam a mais tempo e pela vontade de ver adolescentes tão especiais tendo a oportunidade de modificar a própria realidade, eu e os demais voluntários, embora em franca desvantagem, iniciamos o combate, com fé de que, de algum modo, no meio da luta, receberíamos a ajuda necessária para vencer.

E foi o que ocorreu, após um difícil trabalho de conscientização dos adolescentes sobre a necessidade de se comprometer com algo que lhes traria benefício, fomos atrás de profissionais qualificados para introduzir os adolescentes ao mundo do cinema e suas técnicas. Foi quando cruzamos o caminho do pessoal da Mnemocine (indicação de Rodrigo Serafino, um doas voluntários precursores da Oficina).

Acostumados com projetos dentro do terceiro setor, os professores da Mnemocine nos aconselharam a iniciar a Oficina com um módulo de fotografia, preparando os adolescentes para uma próxima oficina de vídeo, para depois uma de áudio e assim sucessivamente. Fizeram um orçamento para a execução das aulas, e a luta em busca de recursos, talvez um dos maiores inimigos, se iniciou.

Todos os voluntários iniciaram a busca. Um amigo aqui, um parente ali, um dirigente da empresa lá, e nada de conseguirmos fechar o valor, e quando pensávamos que não iríamos conseguir, a ajuda que falei a pouco, aquela que tínhamos fé que viria, enfim nos alcançou.

A empresa Sonae Sierra, administradora de shoppings centers, onde o voluntário Fagner trabalha, aprovou o projeto da Oficina de Fotografia que lhe foi apresentado, assumindo a responsabilidade pelo pagamento dos três meses integrais de curso. Nossa felicidade estava quase completa. Mas ainda nos restava a incerteza de saber se as crianças abraçariam ou não a idéia e se apareceriam no curso que se iniciaria no dia 29/06, último domingo.

Após visitas pessoais por nós realizadas na favela, onde comunicamos os pais sobre o curso que se iniciaria, além do constante incentivo à participação no curso de fotografia durante os sábados, para nossa agora completa alegria, os adolescentes apareceram em peso, empolgados para aprenderem a tirar fotos.

Em um domingo lindo e ensolarado, um marco para a Oficina de Cinema. Após alguns meses de aparentes derrotas, vimos que não foi em vão todo o esforço que empregamos, e enfim, a Oficina de Cinema do Projeto Vida Nova parecia, ali, bem diante de nossos olhos, começar a funcionar.

Tivemos a primeira saída para fotografar a comunidade, e o objetivo era que as crianças fotografassem algo que representasse o bairro. Essa atividade, de certa forma, fez com que as crianças enxergassem ou percebessem algumas coisas presentes em seu cotidiano que às vezes passam por alto na correria do dia a dia. Coisas boas e coisas ruins, um córrego poluído infestado de ratos ou uma obra de arte desenhada em um muro, o lixo jogado por toda a parte ou o sorriso de uma mãe na janela de sua casa, e um senso crítico da própria realidade parece estar se despertando de seu sono. Um passo firme rumo à transformação.

No final da aula, tivemos ainda a oportunidade de ouvir os depoimentos a respeito daquela primeira experiência com a fotografia, e foi impossível não se emocionar ao ouvir frases como “foi muito melhor aprender sobre fotografia do que ficar na rua fazendo besteira” ou ainda “obrigado por esta oportunidade”. Mal sabem eles que nós é que seremos sempre gratos pela oportunidade que nos dão de aprender a, enfim, viver de um modo que faça sentido.

No decorrer deste texto você tem a grande oportunidade de, emprimeira mão, ver algumas das fotos tiradas pelos adolescentes neste domingo, na tentativa de expressar a sua visão da própria realidade.

É só o início da reviravolta na grande batalha em que estamos inseridos, a inimizade da desigualdade, da revolta, da violência e da falta de recursos ainda tentará nos dar o troco, estamos cientes disso, mas estamos seguros que nesse momento, poderemos contar com ajuda, primeiramente de Deus, depois de pessoas e empresas que estejam dispostas a mudar o rumo natural das coisas.

Fica aqui nosso agradecimento à empresa Sonae Sierra por ter se disposto a nos ajudar nessa luta contra a desigualdade,miséria e violência. Vocês estão fazendo uma profunda diferença na vida de muitos.


28 de junho de 2008

28 de junho, o primeiro Roteiro e uma participação especial

Diferente do publicado aqui há algumas semanas, quando dissemos que faríamos uma campanha publicitária com direito à propaganda em vídeo, resolvemos, por problemas de logística e de cronograma, voltar para a idéia inicial: o curta-metragem. Não é preciso ser Fernando Meirelles para perceber que terminar o semestre numa Oficina de Cinema com algo “palpável” como um curta seria uma coisa boa para alunos, apresentando um resultado à curto prazo dos seus esforços na tela, para nós voluntários e, claro, para atuais/futuros patrocínios, mostrando o que a oficina fez até agora.

Escolhemos o penúltimo sábado de junho para o início da tarefa. Apesar das necessárias mudanças, o tema da campanha seria mantido. Como eu não tinha em mente um local fácil para alugar um curta, que serviria como exemplo, apelei para a Pixar. Assistimos apenas a dois curtas animados, “For the Birds” e “Knick Knack”, presentes nos DVDs de “Monstros S.A.” e “Procurando Nemo”, respectivamente.

Olhando por um lado, não foram realmente bons exemplos, afinal não tem diálogo algum e, óbvio, são animados. Claramente, isso não é necessariamente um problema. Já que, em contra partida, eles serviram para mostrar duas coisas importantes: características de personagens, com a ajuda dos sempre muito expressivos seres animados da Pixar, e o simplificador fato do curta ser apenas um longa curto (sic). Vale lembrar que os tópicos Personagem e História foram trabalhados durante todo o semestre, portanto, funcionando quase como uma prova de fim de semestre, precisávamos “aplicar” tal avaliação.

Passadas as animações, fomos para a prática. Dividimos a oficina em dois grupos e cada uma criou o esqueleto da história. A forma de quatro equipes usada durante o semestre teve de ser revista, já que as tarefas agora seriam muito especificamente divididas e sete pessoas por equipe poderiam não ser suficientes.

No último sábado (28), retomamos a atividade. O objetivo, agora, era detalhar e caracterizar ao máximo a história criada por eles, deixando ela pronta para o momento da filmagem. Era o primeiro passo na roteirização de uma história. Com a sala ainda dividida em duas equipes, usamos a primeira página do roteiro de “Cidade de Deus”, de Bráulio Mantovani, como exemplo. Daí, então, todos os alunos construíram juntos os primeiros roteiros da oficina.

Mas em um dos grupos, uma interessante surpresa chamava a atenção dos alunos da oficina: Karina Barum. A atriz que graciosamente atendeu nosso convite, não só compareceu, como participou da atividade do dia, colaborando com sua experiência no teatro, cinema e TV. Experiência esta contada ao fim do dia, com Karina falando um pouco mais sobre seu trabalho e sobre sua realista visão de sucesso.

A atriz não estava só, trouxe sua fofíssima filha que encantou o Projeto Vida Nova inteiro. Outras duas, não menos importantes, visitas estiveram lá: Silvinha, amiga da Fabiana Vaz e futura voluntária, e Aninha (quantos “inhas”) que veio com o grande Samuel. O nosso muitíssimo obrigado a todas vocês e, de coração, voltem sempre.

É inegável o surgimento de um saudável orgulho em nós voluntários. Cada detalhe, cada linha de história, cada nome de personagem, uma simples participação, tudo isso é motivo desse bem vindo sentimento. Difícil passar com simples palavras tantos momentos, desde os tensos aos de verdadeira alegria, passados ali. Quem diria a um ano atrás, quando munidos de apenas boa vontade, que chegaríamos tão longe. E olha que a Fotografia ainda nem começou...

23 de junho de 2008

Crianças no Cinema!

No sábado, foi-me informado que levaríamos as crianças mais "firmezas" da aula de teatro para assistir um filme e comer no McDonald's no domingo à tarde. Decidimos premiar os alunos da Oficina de Cinema que ao longo do semestre frequentaram as aulas complementares com seriedade, participação ativa e sem faltas. Jéssica, Franciele, duas Sabrinas e, para surpresa de todos, Ramiro foram os selecionados para o passeio no shopping.

A tarde de domingo era fria, cinzenta e os termômetros marcavam 14ºC. Para as crianças da oficina, entretanto, mais parecia uma tarde de sol. Às 14h em ponto lá estavam todos em frente à sede Projeto Vida Nova, produzidos e ansiosos. "Achei que vocês tinham esquecido da gente" diz Sabrina, 14, reclamando do meu atraso de 5 minutos.

Mauro e Fagner chegaram logo em seguida e, assim que decidimos que as meninas iriam em um carro e os meninos em outro, partimos em direção ao Shopping Market Place. A princípio senti-me um pouco receosa, insegura, temendo a falta de intimidade ou de interesse das meninas. No entanto, menos de 5 minutos depois, quando ainda nos encontrávamos na Estrada de Itapecerica, percebi que já estávamos conversando sobre nossa vida, nossos sonhos, frustrações, vontades e expectativas.

É interessante perceber como um mínimo de convivência, um pouco de conversa e algumas risadas abrem portas para vidas que antes pareciam inatingíveis. Durante o percurso até o shopping, as meninas me contaram sobre suas famílias, namorados, o que pensam do local onde vivem e o que querem pro futuro.

A chegada no shopping, o McDonalds, o filme (Incrível Hulk, por sinal bastante interessante) se transformaram em momentos tão divertidos que parecia, de fato, um passeio rotineiro com amigos meus. Esses aspectos, entretanto, foram ofuscados pelo sentimento prazeroso de desenvolver um relacionamento verdadeiro e de amizade com aqueles alunos. Este, desde o começo da oficina, foi nosso maior desejo e ver que a cada sábado estamos, pouco a pouco, fazendo parte da vida deles tem sido uma experiência bastante significativa.

Ainda há muito que conquistar e muitos para serem conquistados, porém, com a ajuda de Deus e esforços dos voluntários, estamos conseguindo fazer parte da vida desses jovens com realidades tão diferentes das nossas, para que nessa troca de experiência, possamos mudar a vida deles, assim eles mudam a nossa.

15 de junho de 2008

Festa Junina.zip


Eu havia prometido falar um pouco mais sobre a Festa Junina do Projeto Vida Nova, mas felizmente as coisas na Oficina de Cinema vêm acontecendo de forma tão surpreendente que fica difícil escolher o que devemos diariar.

Para não deixar de lado e correr o risco de cair no desmerecido esquecimento, vou resumir em sucintas palavras a Festa Junina. Visando a maior colaboração de todas as oficinas, a coordenação da ONG resolveu criar uma competição entre elas. A palavra é meio pesada, mas foi saudavelmente usada por todos os envolvidos.

O resultado, como esperado, foi excelente, fazendo do simples evento junino um grande arrecadador de recursos. Sem falar nos inúmeros contatos que fizemos durante o fim de semana. A nossa oficina saiu como vencedora, graças ao trabalho dos voluntários, mas como tudo é revertido para a ONG, seja no geral seja na oficina especificamente, é justo dizer que todos saímos vencedores.

Há muito ainda pra contar sobre o evento, por isso deixo aqui aberto para francos e demais voluntários contarem (por post ou por comentário) mais detalhes e momentos desse memorável fim de semana.

9 de junho de 2008

Fotografia chegando e um pedido de desculpas

Peço perdão aos quase 5 leitores deste blog pela falta de atualização do mesmo. Realmente, não ando tendo muito tempo e o que me sobra, gasto no cinema, lendo gibi ou algum livro dos que comecei ("Manual do Roteiro", de Syd Field, "Story", de Robert McKee, e "Ensaio Sobre a Cegueira", Saramago).

Acredito que os outros francos colaboradores andam ocupados com as mesmas coisas (estudos, Oficina de Cinema e trabalho), então pelo desculpa por eles também.

A Oficina de Cinema anda muito bem, obrigado. Enfim, a aula de fotografia dada pela galera da Mnemocine está com a data marcada para o dia 29 de junho. Sem falta, sem chorumelas. O dinheiro chegará até lá (we really hope so!).

Alguns feriados e festas da ONG, como a junina do último final de semana, "atrapalharam" o ritmo da criançada, mas recuperaremos antes das aulas de fotografia, nosso maior momento desde o começo da Oficina.

Posteriormente, deveremos escrever sobre a citada festa junina. Os dois dias renderam, e ainda há de render, muitas boas histórias.

Ah, "Ensinando a Viver", com John Cusack, que está ainda em cartaz, é bem fofo. Nada novo, mas bem fofo, graças, claro, ao Cusack e ao pentelho "vindo de marte".

Uma boa semana a todos!

20 de maio de 2008

Sobre Sexo Seguro e Improvisos

Discutido de diversas maneiras há décadas - com mais ênfase, a partir dos anos 90 - o sexo sem proteção ainda é um problema no Brasil e no mundo. Mesmo sendo um dos mais "batidos" temas a se tratar com os jovens e adolescentes, é absurdo o número de casos de gravidez, aborto e DST entre estas faixas. Isso é ainda mais freqüente entre os adolescentes das periferias das cidades pelo país.

Pensando no provável emergente problema entre nossos alunos, já que o grupo é formado por adolescentes de 11 a 16 anos - faixa perigosa - resolvemos, de última hora, mudar os planos e discutir o tema na Oficina de Cinema. A decisão foi tomada numa reunião na quarta, dia 14 de maio, realizada no antigo prédio da Faculdade de Enfermagem da UNASP.

Há alguns dias, em uma visita ao Instituto Criar (patrocinada pelo Luciano Huck), localizada na Barra Funda, zona Oeste de São Paulo, Thais Guin e Mauro Catanzaro falaram com Fernanda Vidigal, coordenadora pedagógica do projeto. Como estamos no início, toda e qualquer dica vindas de pessoas experientes é mais do que bem vinda. Entre muitos outros assuntos importantes tocados naquela visita, um em destaque foi o uso da PROPAGANDA como meio de entender princípios de Roteiro, além de noção de direção, direção de arte e outros detalhes do vídeo. Pensando nisso e misturando o útil ao necessário, Mauro e Thais levantaram a discussão de usar uma campanha sobre sexo seguro, como aquelas que a TV apresenta em época de carnaval.

Com o apoio dos presentes, entre voluntários e coordenação da Oficina, começamos a pensar na realização daquela idéia. Coincidentemente, alguns amigos haviam feito como trabalho de faculdade uma peça sobre o assunto Sexo. Depois de algumas tentativas de contato com os realizadores da tal peça e problemas de agenda com o grupo, acabamos apelando para improvisação. Usando alguns que participaram da apresentação e outros que tinham apenas assistido, Priscila, nova voluntária no projeto, com a ajuda de outros antigos voluntários correram atrás da nova versão da peça.

Essa era a parte divertida do sábado. Faltava, portanto, a parte séria, a parte “chata” da coisa. Pensamos no óbvio, a boa e velha palestra. Aproveitando estar em uma universidade que tem um curso na área da saúde, procuramos entre professores alguém disponível para a tarefa de mostrar com seriedade o tema. Infelizmente, o tempo era curto (três dias) e não conseguimos ninguém que estivesse disponível para sábado, dia 18.

Num exercício de improviso - ausência de atores da peça e “quase-formadas” fazendo a parte da palestra - a coisa aconteceu (no mínimo, quase) como gostaríamos. Como é regra em todas as atividades de sábado começar com a meditação, dessa vez não foi diferente. Começamos com uma história contada pela Marina Catanzaro, seguida de uma oração, feita pelo que vos escreve, e uma introdução da atividade do dia, apresentada pela Thais.

As performances de Mauro, Tinho, Flavinha e Priscila, interpretando, respectivamente, uma prevenida garota tímida, outra mais saidinha, um “pegador” e o amigo conselheiro, foram hilárias e arrancaram gargalhadas dos visitantes, alunos e voluntários. Com destaque para a frase “esse cabelo não sai da minha boca”, improvisada pelo Mauro e a interpretação caricata de uma "quase-prostituta" de Tinho. Mostraram a história de um inconseqüente e promíscuo garoto que se vê em confusão ao engravidar uma de suas parceiras.

As alunas Luciara e Nancy do último semestre de Enfermagem da UNASP gentilmente se dispuseram a apresentar os perigos do sexo sem proteção. Mostraram as principais doenças sexualmente transmitidas, este com fortes ilustrações, uma apresentação multimídia e até uma polêmica mini-aula sobre como colocar a camisinha, usando uma banana. As alunas aproveitaram para abrir um espaço para perguntas e, com a ajuda da Thais, finalizaram o programa aconselhando sobre a melhor das prevenções contra DSTs, abortos e gravidez não programada: o sexo somente após o casamento.

Ao fim do dia, explicamos como seriam as próximas atividades na Oficina. Alguns vídeos de propaganda da TV, baixados da Internet e alguns exemplos de campanha a favor do sexo seguro foram apresentados pela Thais. O desafio estava lançado. Os quatro grupos apresentarão, até o fim do semestre, uma campanha completa, com direito a propaganda em vídeo, onde, seguindo os conselhos de Fernanda Vidigal, aprenderão os princípios básicos de roteiro e direção.

O nosso agradecimento às professoras Luciara e Nancy, aos atores Tinho, Flavinha e Priscila, à importante visita do Endomarketing da Sonae Sierra Brasil, nas pessoas da Lídia e Arlete e a TODOS os voluntários e visitantes presentes que ajudaram - em especial a minha linda mãe, visitando o projeto pela primeira vez. Incluo na lista de agradecimentos todos os membros da coordenação que vêm desde o começo do semestre passado se virando como podem, entre reuniões e discussões, disponibilizando tempo (inclusive madrugadas em pleno fim de semana), paciência e dinheiro do próprio bolso para este projeto.

28 de abril de 2008

12 de abril, primeira aula de Teatro

Depois de algumas semanas sem postar aqui no blog (cabe aqui um "desculpa!"), vou relembrar, para respeitar a intenção do “diário” da OC, um dos dias mais empolgantes para as crianças da Oficina: a primeira aula de TEATRO.

(A correria para postar é porque ainda estarmos correndo atrás de patrocínios e boa parte do nosso tempo de sobra está sendo designada para isso. Voltando...)

Claro que já tivemos aulas amadoras de teatro. Inclusive, vale lembrar que apresentamos na Sede uma peça para os voluntários, no semestre passado. Mas dessa vez foi diferente. Professor de Teatro no CEU Campo Limpo, Ricardo (estudante da USP) soube prender a atenção da criançada com sua informalidade e naturalidade com o assunto que mais chama a atenção das crianças. Mostrou total domínio do assunto e fez alguns ali que nunca tinham se soltado, perder um pouco da vergonha de falar em público. Aproveitou também para realizar algumas dinâmicas de integração.









Na verdade, o dia (há quase três semanas) era apenas uma amostra grátis para as aulas que teríamos durante a semana. Agora, com horário fixo (quinta à tarde), os alunos ainda não estão comparecendo em sua maioria, por motivos diversos. Alguns são babás de outras crianças, outros dos próprios irmão, alguns trabalham e outros ainda não estão no clima. Ainda faltando, portanto, aquele problema de comprometimento. Mas já estamos tomando as devidas providências e acreditamos que uma integração dos voluntários com as famílias das crianças fará uma importante diferença.

















É um grande passo para a OC por ser algo mais específico e mais prático, mais palpável e de resultado quase instantâneo. Estamos ainda aguardando por recursos para financiar essa etapa final do semestre, que termina ao fim de junho. Pegando, provavelmente, um pouquinho de julho.

11 de abril de 2008

Nos embalos de Syd Field..

No dia em que o cinema perdeu um de seus maiores personagens, o ator americano Charlton Heston, mais conhecido como “Ben Hur”, nossa oficina começava a criar seu primeiro de forma estruturada e mais complexa. Enquanto uns nascem e outros se despedem, a Oficina de Cinema do Projeto Vida Nova se esforça cada vez mais para transformar as crianças do Jd. Amália em personagens de sucesso de sua própria história.

A idéia de trabalhar com criação e conhecimento de personagens tomou forma em uma reunião realizada na casa do Mauro (“O Labirinto do Fauno”), onde estavam presentes Marina (“Na Natureza Selvagem”), Samuel (“Scanners”) e Thais (“O Plano Perfeito”). O tema, no entanto, já havia sido discutido em reuniões passadas e foi sobre um pré-cronograma montado por Fagner (“Billy Elliot”), que surgiu a tarefa para este sábado.

Após a tímida oração inicial do Jackson, as crianças foram divididas em grupos de 4 participantes, identificados com fitas coloridas de cetim. Foi passado, então, um trecho do filme “Desafiando Gigantes” (EUA, 2006), no qual foi possível conhecer uma parte do personagem principal “Grant Taylor”. Aplicando as técnicas que o roteirista Syd Field apresenta em seu livro “Manual do Roteiro”, orientamos as crianças a criarem a “vida interior” do personagem, ou seja, todos os dados e acontecimentos principais de sua vida, desde seu nascimento até o momento mostrado no filme.

A criatividade e o livre fluxo de idéias foram incentivados, entretanto, elaboramos algumas questões que, obrigatoriamente, deveriam ser respondidas para que a técnica do exercício não fosse perdida na proposta. Entre elas:
- Qual a idade dele no momento em que o filme começa?
- Onde ele vive, que cidade, país?
- Onde nasceu?
- É filho único, tem irmãos?
- Como foi a infância dele, feliz, triste?
- Ele tinha pai e mãe, qual era o relacionamento com eles, eram pais rígidos, amorosos, ausentes?
- Que tipo de criança ele era, introvertida, extrovertida, nerd, popular, etc?
- Estudou ou não? Fez faculdade ou não?
- Se casou, é solteiro, viúvo, divorciado, possui um grande amor, um amor proibido, etc.?
- Qual sua profissão?

O resultado da atividade foi surpreendente e divertido. As histórias, lidas à frente timidamente por uns e contadas com entusiasmo por outros, tomaram rumos trágicos, cômicos e, até mesmo, espelhados na própria realidade em que vivem. Foi o que pudemos perceber quando uma das crianças narrou que, quando os pais de Grant brigavam, a mãe dele batia no pai com uma panela. Todos começaram a rir, pois um episódio idêntico havia acontecido na favela com os pais de um dos integrantes da Oficina. Foi possível perceber, também, a dificuldade com que esses pré-adolescentes enfrentaram a infância, visto que nenhuma relatou esse período de modo feliz ou fácil.

As histórias criadas foram guardadas para que eles possam dar continuidade na próxima semana, abordando, no entanto, a “vida exterior” do personagem, que se caracteriza como o período de vida que se pode ver ao longo do filme.

Apesar do dia chuvoso, do desgaste com algumas crianças e da busca estressante por uma TV reserva (cedida gentilmente pelo Kelvin Bahia), o último sábado foi um dia gratificante, pois pudemos perceber visivelmente alguns resultados dos esforços empregados, como aumento da vontade, disciplina e criatividade nas crianças do Jd. Amália.

3 de abril de 2008

CineSesc dá aos paulistanos mais uma chance...

(...fugindo um pouco da Oficina, mas ainda no cinema...)

O blog da Folha "Ilustrada no Cinema" postou na última quarta-feira que o CineSesc, uma das melhores salas da capital paulista (digo isso, quanto à programação, não ao ambiente), irá exibir os melhores filmes que passaram pelos cinemas no ano passado.

Essa é a grande chance de assistir àquele filme que você, por algum motivo, não pôde conferir nas telonas quando estava em cartaz. O legal é a presença de longas que já chegaram nas locadoras, ou seja, fitas que estrearam no primeiro semestre (vide "Zodíaco") ou no segundo, como o brasileiro aclamado "Tropa de Elite", você poderá (re) ver. Falando em nacionais, outros brazucas estarão presentes, como "Querô", "A Casa de Alice", "Não Por Acaso" (com Rodrigo Santoro) e os excelentes "O Cheiro do Ralo" (com Selton Mello) e "Cão sem Dono" de Beto Brant.

Outro ponto positivo na seleção é a exibição de filmes que não receberam a merecida atenção quando em cartaz, como o francês "Piaf - Um Hino ao Amor", vencedor do Oscar de Melhor Atriz para Marrion Cotillard nesse ano, o alemão "A Vida dos Outros", vencedor do Oscar do ano passado de Melhor Filme Estrangeiro e o subestimado "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", com o galã Brad Pitt.

Até os diretores "difíceis" estarão lá. É o caso de Lars Von Trier e David Lynch, respectivamente, com "O Grande Chefe" e "Império dos Sonhos". É certo que ainda não dá pra entender a presença do razoável blockbuster "Piratas do Caribe - No Fim do Mundo", que recebeu atenção até demais dos cinemas nacionais, mas isso é nada perto da boa seleção feita por público e críticos. Vale a pena conferir, mesmo aqueles que já estão em DVD.

O festival acontece entre os dias 8 e 24 de abril, no CineSesc.
Endereço: R. Augusta, 2.075
Telefone: 3087-0500
Ingressos a R$ 6

Segue abaixo, a programação completa, copiada do blog da Folha.

8 de abril – terça-feira

14h30 - "Batismo de Sangue", de Helvécio Ratton
16h30 - "Mais Estranho que a Ficção", de Marc Forster
19h - "A Rainha", de Stephen Frears
21h - "O Passado", de Hector Babenco

9 de abril – quarta-feira

14h30 - "Noel, Poeta da Vila", de Ricardo van Steen
16h30 - "Novo Mundo", de Emanuele Crialese
19h - "O Grande Chefe", de Lars Von Trier
21h - "Piaf, Um Hino ao Amor", de Olivier Dahan

10 de abril – quinta-feira

14h30 - "Cão Sem Dono", de Beto Brant
16h30 - "Babel", de Alejandro González Iñarritu
19h - "Em Paris", de Christophe Honoré
21h - "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", de Andrew Dominik

11 de abril – sexta-feira

14h30 - "Notas sobre Um Escândalo", de Richard Eyre
16h30 - "O Cheiro do Ralo", de Heitor Dhalia
19h - "A Via Láctea", de Lina Chamie
21h - "Império dos Sonhos", de David Lynch

12 de abril – sábado

14h30 - "Baixio das Bestas", de Claudio Assis
16h30 - "Babel", de Alejandro González Iñarritu
19h - "Jogo de Cena", de Eduardo Coutinho
21h - "A Vida dos Outros", de Florian Henckel von Donnersmarck

13 de abril – domingo

14h30 - "A Casa de Alice", de Chico Teixeira
16h30 - "Em Busca da Vida", de Jia Zhang-ke
19h - "Maria", de Abel Ferrara
21h - "Tropa de Elite", de José Padilha

14 de abril – segunda-feira

14h30 - "A Culpa é do Fidel", de Julie Gavras
16h30 - "À Procura da Felicidade", de Gabriele Muccino
19h - "O Violino", de Francisco Vargas
21h - "O Sobrevivente", de Werner Herzog

15 de abril – terça-feira

14h30 - "Não por Acaso", de Philippe Barcinski
16h30 - "Conduta de Risco", de Tony Gilroy
19h - "Vermelho como o Céu", de Cristiano Bortone
21h - "Zodíaco", de David Fincher

16 de abril – quarta-feira

14h30 - "A Comédia do Poder", de Claude Chabrol
16h30 - "Cartas de Iwo Jima", de Clint Eastwood
19h - "A Casa de Alice", de Chico Teixeira
21h - "O Passado", de Hector Babenco

17 de abril – quinta-feira

14h30 - "Saneamento Básico", de Jorge Furtado
16h30 - "Medos Privados em Lugares Públicos", de Alain Resnais
19h - "Viagem a Darjeeling", de Wes Anderson
21h - "Piratas do Caribe – No Fim do Mundo", de Gore Verbinski

18 de abril – sexta-feira

14h30 - "Proibido Proibir", de Jorge Duran
16h30 - "Pecados Íntimos", de Todd Field
19h - "Querô", de Carlos Cortez
21h - "Tropa de Elite", de José Padilha

19 de abril – sábado
14h30 - "A Via Láctea", de Lina Chamie
16h30 - "Piaf, Um Hino ao Amor", de Olivier Dahan
19h - "Santiago", de João Moreira Salles
21h - "Uma Mulher Sob Influência", de John Cassavetes

20 de abril – domingo

11h - "As aventuras de Azur e Asmar", de Michel Ocelot
14h30 - "Jogo de Cena", de Eduardo Coutinho
16h30 - "A Vida dos Outros", de Florian Henckel von Donnersmarck
19h - "O Preço da Coragem", de Michael Winterbottom
21h - "No Vale das Sombras", de Paul Haggis

21 de abril – segunda-feira

11h - "Ratatoiulle", de Brad Bird
14h30 - "Em Busca da Vida", de Jia Zhang-ke
16h30 - "Ratatoiulle", de Brad Bird
19h - "Cartola", de Lírio Ferreirra
21h - "Lady Chatterley", de Pascale Ferran

22 de abril – terça-feira

14h30 - "Possuídos", de William Friedkin
16h30 - "O Amor nos Tempos do Cólera", de Mike Newell
19h - "O Engenho de Zé Lins", de Vladimir Carvalho
21h - "O Último Rei da Escócia", de Kevin Macdonald

23 de abril – quarta-feira

14h30 - "Mutum", de Sandra Kogut
16h30 - "A Vida dos Outros", de Florian Henckel von Donnersmarck
19h - "Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá", de Silvio Tendler
21h - "O Hospedeiro", de Joon-ho Bong

24 de abril – quinta-feira

14h30 - "500 Almas", de Joel Pizzini
16h30 - "A Leste de Bucareste", de Corneliu Porumboiu
19h - "Carreiras", de Domingos de Oliveira
21h - "Em Busca da Vida", de Jia Zhang-ke

2 de abril de 2008

Missão: Conscientização

Com a ausência dos alunos na Oficina durante os dias da semana, chegamos à conclusão que seria necessário uma conversa com eles. Lógico, de nenhuma maneira, poderíamos chegar e “soltar os cachorros” (como passou pela minha cabeça, admito), mas teríamos que pensar num método de conscientizá-los sobre a nossa intenção, sobre o quê aquilo seria pro futuro deles e, claro, mostrar a todos que sem COMPROMETIMENTO nada seria possível.

Marcamos uma reunião num feriado ensolarado de sexta (da paixão) no Pq. Burle Marx. Tópico a ser discutido: o que fazer para alcançar esse objetivo de conscientizar e atrair as crianças para aparecer nos dias de terça e quinta. Por ser num fim de semana de feriado, poucos estavam em São Paulo. Éramos, então, apenas Fabi (“O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”), Mauro (“Magnólia”), Samuel (“Laranja Mecânica”), Thais (“Antes do Pôr-do-Sol”) e eu (“Filhos da Esperança”).

Outro grande problema dessa ausência era os voluntários internos aparecerem com as aulas preparadas (duas vezes por semana) e não encontrar nenhuma alma viva para assistir. Na verdade, uma única vez, apareceram sete crianças. Era questão de tempo, para esses voluntários (ocupados com trabalho de faculdade, estágios, sem falar nos bolsistas que trabalham na faculdade) pular fora. Como coordenador, a parte de conversar cabia a mim. Não sou muito bom em falar em público, ainda mais para crianças (começo a gaguejar, fico nervoso, sou redundante e, às vezes, pouco objetivo), mas essa era pra mim.

Percebemos que tão importante quanto conscientizá-las, era necessário também atraí-las. (Pensei agora se colocaria ou não as coisas que decidimos fazer, mas resolvi colocar justamente pra termos um registro do quê nos comprometemos a fazer.) Decidimos, então, correr atrás de entradas para circos, teatros e cinema. E, como conversei com uma amiga, agendaríamos até uma visita delas numa emissora de televisão, se fosse necessário. Claro, algumas coisas meio que fogem do objetivo principal, mas serviriam todas como ânimo e, de alguma forma, mostrariam que estávamos dispostos a correr atrás de qualquer coisa para incentivá-las.

Sábado IV - "O Sermão"

Escolhemos o sábado último, 29 de março, para a tão necessária conversa. Em contraste com a ensolarada sexta e rimando com o clima que seria o papo, o tempo estava fechado e anunciava a chuva que estava por vir. Afinal, não era exatamente um diálogo, não haveria partipação e nem dinâmica. Era algo bem próximo da sala de aula, onde o professor (no caso, eu) fala até perceber que tudo está bem entendido por todos. Os voluntários do UNASP estavam lá. Era preciso fazê-los perceberem que contamos com eles, mais ainda, que somos um só, visando o mesmo objetivo.

Postos todos em cadeiras à lá escola de ensino fundamental (nem o sofá localizado na lateral da sala, onde geralmente há mais bagunças, foi liberado), a "aula" foi iniciada. Foi notável o quanto prestaram atenção e demonstraram estar entendendo, mesmo com alguns (3 ou 4, entre quase 30 crianças) não concordando. Falando em "não concordando", um dos pontos era deixar claro que a partir de agora, só ficariam os interessados. Não será mais aceito "corpo-mole" ou algo parecido. Deixei, também, claro que era impossível sair dali algum cineasta. Fui sincero. Nossa intenção é criar em cada um ali, um senso crítico, uma noção e, claro, quem sabe, fazer alguém achar no cinema uma paixão, oportunidade, cultura ou, no mínimo, um bom entretenimento.

Eu precisava também mostrar alguma coisa que deu certo. Era meio "invisível" pra todas aquelas pessoas, alguma coisa ali, no meio de uma favela no Capão Redondo, ser interessante. Fala sério, elas estão acostumadas a tomar só bronca em casa, ouvir que não valem nada e que não têm futuro. E me vêm um magrelo dizendo que com aquilo ali poderiam, se houvesse comprometimento, aprender alguma coisa de útil pra vida? Difícil.

Lembrei do extra do DVD de "Cidade de Deus" que eu havia visto rapidamente na casa de um amigo. Não lembrava de detalhes, mas, no mínimo, sabia do que todo mundo já sabe: tirando meia dúzia de atores profissionais no premiado longa (Matheus Nachtergaele, Gero Camilo, Alice Braga, etc), todo o resto do elenco é composto por atores encontrados nas favelas da cidade do Rio de Janeiro. Quer incentivo melhor? Depois do papo, passei os primeiros 22 minutos do extra "Oficina de Atores". No vídeo, o "Zé Pequeno", o "Buscapé" e outros da equipe responsável pela oficina de atores falam sobre a importância do comprometimento, da empolgação e da naturalidade necessária nesse tipo de projeto.

Terminado o vídeo, a premiação, como fora prometido no outro sábado, foi realizada. As melhores atuações e os que mais participaram receberam da coordenação receberam algumas lembranças. Lembranças pequenas, já que por enquanto saem todas dos bolsos dos colaboradores.

Agora, é com a gente. Correr atrás de patrocínio, de gente pra ajudar, de teatro, ingressos mais baratos, recursos, materiais, meio de transporte, equipamentos etc. Como diz o velho clichê, a luta continua.

20 de março de 2008

15 de março, terceiro dia na OC

Atuações surpreendentes e uma clara melhora em algumas deficiências verificadas em atividades anteriores, como a timidez em falar em público, marcaram o terceiro sábado da Oficina de Cinema do Projeto Vida Nova.

Aproveitando o ensejo do feriado de Páscoa na próxima semana, foi desenvolvida pelo Wesley Modro, uma atividade pela qual se pôde verificar um alto grau de entusiasmo entre os participantes, com um resultado muito satisfatório no que tange ao desenvolvimento das aptidões relacionadas com alguns aspectos fundamentais do cinema, como atuações, figurinos etc.

As crianças foram divididas em dois grupos de 11 pessoas, recebendo cada um dos grupos uma missão diferente. Um dos grupos, liderado por mim, Mauro, e pela Thais, ficou incumbido de encenar a história da páscoa descrita no Velho Testamento. Na primeira parte da Bíblia, Moisés, a mando de Deus, pediria ao Faraó a libertação de seu povo, que vinha sendo escravizado pelos egípcios. Vale ressaltar as impressionantes performances do pequeno Wellington como libertador de Israel, e do Victor, como o agora inimigo de Moisés.

O outro grupo, liderado pelo Wesley e Sthefanie, ficou responsável pela encenação da história da Páscoa adaptada à realidade do cotidiano das crianças. A intenção era fazer um paralelo entre a páscoa bíblica e a "páscoa" contemporânea. Na história, criada pelo Wesley, à semelhança de Moisés na Bíblia, o personagem Carlos deseja mudar de vida, sair da favela e buscar um lugar melhor para sua família. Impedido pelo traficante com quem havia crescido, ele consegue sua libertação com a ajuda de Deus.

Muito estimuladas pela promessa de uma boa premiação para quem levasse mais a sério e melhor interpretasse os papéis que lhes foram incumbidos, as crianças se demonstraram entusiasmadas, ajudando na confecção dos figurinos, nos "efeitos especiais" a serem utilizados no momento das 10 pragas, decorando suas falas, e superando a própria a timidez.

Após os ensaios, cada grupo apresentou sua respectiva peça perante o outro grupo e os voluntários, e o resultado foi melhor que o esperado, um raro silêncio na platéia, e muitos talentos revelados no momento das atuações.

A cada sábado temos tido a grande oportunidade de verificar as principais deficiências das crianças, na maioria dos casos relacionadas com a auto-estima ou algum tipo de revolta pelas difíceis condições sociais em que se encontram, sobre as quais estamos trabalhando, com a intenção de saná-las. Mas, acima de tudo, temos verificado diversas virtudes, talentos e muita vontade de serem pessoas melhores, melhora esta, sensível a cada encontro.

10 de março de 2008

8 de março, segundo dia na OC

Pontualidade (dos alunos), participação especial, colagens e muita criatividade fizeram desse sábado o dia mais proveitoso na Oficina de Cinema do Vida Nova. Numa dinâmica apresentada pela Thais Guin e o Mauro Catanzaro, as crianças aprenderam um pouco mais sobre como criar uma história.

No lugar do falatório do primeiro dia, o casal colocou a criançada para trabalhar. Para facilitar o entendimento, os professores mostraram no início da aula a história de Sansão. O rapaz que tinha forças no cabelo e que se perdeu por causa da mulher traidora foi contada com colagens retiradas de antigas edições de "
Rolling Stone", "Veja", entre outras.

Explicada a tarefa, os alunos foram divididos em grupos de três. Foram entregues também, para cada grupo, as ferramentas necessárias para o exercício, cartolinas, tesouras e cola, além das revistas. Com várias publicações trazidas pelos voluntários, os alunos deveriam criar, colando em uma cartolina, histórias com início, meio e fim. Além disso, eles deveriam nomear cada personagem principal.

Cerca de 50 minutos foram necessários para todas as crianças entregarem a tarefa. E, diante de todos os colegas, os futuros roteiristas contaram suas histórias. Algumas muito criativas, por sinal. Outras, apenas boas, mas todas bem realizadas com um ânimo raramente visto entre eles. No final, dois grupos foram escolhidos pelos voluntários presentes para receber o prêmio trazido pela também voluntária Fabiana Oliveira.

Com essa dinâmica, foi possível notar um importante exercício, aliás muitos exercícios, que teremos que realizar de alguma forma com todos esses alunos: a vergonha de falar em público, a timidez.