2 de abril de 2008

Missão: Conscientização

Com a ausência dos alunos na Oficina durante os dias da semana, chegamos à conclusão que seria necessário uma conversa com eles. Lógico, de nenhuma maneira, poderíamos chegar e “soltar os cachorros” (como passou pela minha cabeça, admito), mas teríamos que pensar num método de conscientizá-los sobre a nossa intenção, sobre o quê aquilo seria pro futuro deles e, claro, mostrar a todos que sem COMPROMETIMENTO nada seria possível.

Marcamos uma reunião num feriado ensolarado de sexta (da paixão) no Pq. Burle Marx. Tópico a ser discutido: o que fazer para alcançar esse objetivo de conscientizar e atrair as crianças para aparecer nos dias de terça e quinta. Por ser num fim de semana de feriado, poucos estavam em São Paulo. Éramos, então, apenas Fabi (“O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”), Mauro (“Magnólia”), Samuel (“Laranja Mecânica”), Thais (“Antes do Pôr-do-Sol”) e eu (“Filhos da Esperança”).

Outro grande problema dessa ausência era os voluntários internos aparecerem com as aulas preparadas (duas vezes por semana) e não encontrar nenhuma alma viva para assistir. Na verdade, uma única vez, apareceram sete crianças. Era questão de tempo, para esses voluntários (ocupados com trabalho de faculdade, estágios, sem falar nos bolsistas que trabalham na faculdade) pular fora. Como coordenador, a parte de conversar cabia a mim. Não sou muito bom em falar em público, ainda mais para crianças (começo a gaguejar, fico nervoso, sou redundante e, às vezes, pouco objetivo), mas essa era pra mim.

Percebemos que tão importante quanto conscientizá-las, era necessário também atraí-las. (Pensei agora se colocaria ou não as coisas que decidimos fazer, mas resolvi colocar justamente pra termos um registro do quê nos comprometemos a fazer.) Decidimos, então, correr atrás de entradas para circos, teatros e cinema. E, como conversei com uma amiga, agendaríamos até uma visita delas numa emissora de televisão, se fosse necessário. Claro, algumas coisas meio que fogem do objetivo principal, mas serviriam todas como ânimo e, de alguma forma, mostrariam que estávamos dispostos a correr atrás de qualquer coisa para incentivá-las.

Sábado IV - "O Sermão"

Escolhemos o sábado último, 29 de março, para a tão necessária conversa. Em contraste com a ensolarada sexta e rimando com o clima que seria o papo, o tempo estava fechado e anunciava a chuva que estava por vir. Afinal, não era exatamente um diálogo, não haveria partipação e nem dinâmica. Era algo bem próximo da sala de aula, onde o professor (no caso, eu) fala até perceber que tudo está bem entendido por todos. Os voluntários do UNASP estavam lá. Era preciso fazê-los perceberem que contamos com eles, mais ainda, que somos um só, visando o mesmo objetivo.

Postos todos em cadeiras à lá escola de ensino fundamental (nem o sofá localizado na lateral da sala, onde geralmente há mais bagunças, foi liberado), a "aula" foi iniciada. Foi notável o quanto prestaram atenção e demonstraram estar entendendo, mesmo com alguns (3 ou 4, entre quase 30 crianças) não concordando. Falando em "não concordando", um dos pontos era deixar claro que a partir de agora, só ficariam os interessados. Não será mais aceito "corpo-mole" ou algo parecido. Deixei, também, claro que era impossível sair dali algum cineasta. Fui sincero. Nossa intenção é criar em cada um ali, um senso crítico, uma noção e, claro, quem sabe, fazer alguém achar no cinema uma paixão, oportunidade, cultura ou, no mínimo, um bom entretenimento.

Eu precisava também mostrar alguma coisa que deu certo. Era meio "invisível" pra todas aquelas pessoas, alguma coisa ali, no meio de uma favela no Capão Redondo, ser interessante. Fala sério, elas estão acostumadas a tomar só bronca em casa, ouvir que não valem nada e que não têm futuro. E me vêm um magrelo dizendo que com aquilo ali poderiam, se houvesse comprometimento, aprender alguma coisa de útil pra vida? Difícil.

Lembrei do extra do DVD de "Cidade de Deus" que eu havia visto rapidamente na casa de um amigo. Não lembrava de detalhes, mas, no mínimo, sabia do que todo mundo já sabe: tirando meia dúzia de atores profissionais no premiado longa (Matheus Nachtergaele, Gero Camilo, Alice Braga, etc), todo o resto do elenco é composto por atores encontrados nas favelas da cidade do Rio de Janeiro. Quer incentivo melhor? Depois do papo, passei os primeiros 22 minutos do extra "Oficina de Atores". No vídeo, o "Zé Pequeno", o "Buscapé" e outros da equipe responsável pela oficina de atores falam sobre a importância do comprometimento, da empolgação e da naturalidade necessária nesse tipo de projeto.

Terminado o vídeo, a premiação, como fora prometido no outro sábado, foi realizada. As melhores atuações e os que mais participaram receberam da coordenação receberam algumas lembranças. Lembranças pequenas, já que por enquanto saem todas dos bolsos dos colaboradores.

Agora, é com a gente. Correr atrás de patrocínio, de gente pra ajudar, de teatro, ingressos mais baratos, recursos, materiais, meio de transporte, equipamentos etc. Como diz o velho clichê, a luta continua.

2 comentários:

Fabi [lizatômica] disse...

Opa...
Esse sábado vai ser show.
Crianças ativar.
Ás vezes um puxão de orelha dá um gás terrível...
Hihihihihihi
Vamos fazer a OFICINA acontecer!!!!

Fabi [lizatômica] disse...

ups, é a Fabi comentando ouquei